sexta-feira, 3 de julho de 2009

O Maior estudo sobre Esquizofrenia no mundo, deu no O GLOBO

MAIS DE TRINTA MIL MUTAÇÕES CONTRIBUEM PARA A DOENÇA, REVELA MAIOR ESTUDO JÁ FEITO

O maior estudo já feito sobre a Esquizofrenia comprova o forte componente
genético da doença: um terço de suas causas seriam resultado do efeito
acumulativo de 30 mil mutações. O trabalho revelou também que erros numa
misteriosa região do DNA humano aumentam de 15% a 25% os riscos de uma
pessoa ter esquizofrenia. Tais revelações fazem parte da pesquisa feita por
um grupo internacional, que gerou três estudos independentes, publicados na
revista “Nature”. A complexidade do problema, dizem os cientistas, torna
muito difícil o desenvolvimento de testes de diagnóstico, mas as descobertas
abrem caminho para novos tratamentos.

MAL É MAIS COMPLEXO DO QUE SE IMAGINAVA

O trabalho mostra que a esquizofrenia não tem uma única causa genética.
Segundo os pesquisadores, a doença – que se caracteriza por distúrbios do
pensamento, incluindo alucinações e alterações de comportamento – pode
ocorrer não apenas por causa de raras variações genéticas, mas também pelo
acúmulo de milhares de alterações comuns.
“-A esquizofrenia parece um gigantesco e desconcertante quebra-cabeças, do
qual encontramos apenas algumas peças “ diz Thomas Insel, diretor do
National Institute of Mental Health, a maior organização de pesquisa do
mundo, especializada em saúde mental, que financiou os estudos.
Mesmo assim, os pesquisadores conseguiram identificar alguns genes ligados
à essa doença crônica. OS ESTUDOS MOSTRARAM AINDA QUE O TRANSTORNO BIPOLAR
TEM BASES GENÉTICAS SIMILARES ÀS DA ESQUIZOFRENIA.
Os cientistas analisaram sete regiões de variação genética em 50 mil
pessoas, algumas com a doença e outras saudáveis. Eles descobriram que os
portadores apresentavam 15% mais variações em três áreas localizadas nos
cromossomos 15 e 1.
Cinco dessas variações estão presentes num cromossomo que está ligado ao
surgimento de doenças como o diabetes do tipo 1 e problemas imunológicos.
Alguns cientistas chamam essa região de “TRIÂNGULO DAS BERMUDAS” do genoma
humano.
“-Sem dúvida, a localização dessas cinco variações nessa região, também
ligada a doenças imunológicas, é intrigante” diz Pablo Gejman, diretor da
NorthShore University, em Illinois, nos Estados Unidos, que participou dos
estudos.
Além disso, os especialistas confirmaram que uma supressão já conhecida no
cromossomo 22 está envolvida na doença. O desafio agora, dizem, é descobrir
a influência exata que essas mudanças nos genes têm na esquizofrenia e como
atuam para que a doença se manifeste.
“-Há tantos genes envolvidos na doença que a idéia de predizer se alguém
vai desenvolver a esquizofrenia não parece muito provável” afirmou Michael O
’Donovan, da University Of Cardiff, que participou de um dos estudos. “-Mas
acredito que novas análises revelem muitas rotas genéticas para os sintomas
da esquizofrenia.”

METADE DAS OCORRÊNCIAS SERIA HEREDITÁRIA

Apesar dessa previsão, segundo os pesquisadores, ainda falta muito para
que se obtenha um quadro completo de como essas falhas genéticas poderiam
agir juntas ou separadamente para produzir os sintomas da esquizofrenia. Mas
eles calculam, baseados em estudos sobre gêmeos idênticos, que metade dos
casos de esquizofrenia é herdado, enquanto o resto tem outras causas.
Embora não tragam benefícios médicos imediatos, as descobertas revelam um
pouco mais da biologia dessa doença, que atinge cerca de 1% da população
mundial, principalmente entre 15 e 35 anos. Isso pode levar melhores
tratamentos para a esquizofrenia.

PRECONCEITOS RETARDA DIAGNÓSTICO

Tratamento é feito com antipsicóticos

No Brasil, estima-se que a esquizofrenia atinja cerca de 1,8 milhão de
pessoas. Como retrata o personagem Tarso, da novela “Caminho das Índias”, de
Glória Perez, o preconceito ainda é um dos principais motivos para o atraso
no diagnóstico da doença.
“-Existem muitos preconceitos em torno da doença” afirma Mário Louzã,
coordenador do Projeto Esquizofrenia, do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas de São Paulo. “-Ainda é muito comum a esquizofrenia
ser confundida com depressão, crise de adolescente ou mesmo uma esquisitice
passageira. E quanto mais tardio o diagnóstico, mais difícil é o seu
controle.
Em geral, a esquizofrenia começa a se manifestar no fim da adolescência e
no início da vida adulta, com alterações nas atitudes dos portadores da
doença, que acabam por interferir no seu convívio social. O tratamento é
feito com antipsicóticos, que podem também ser associados com a
psicoterapia.

O GLOBO – QUINTA FEIRA - 02/07/2009
CADERNO DE CIÊNCIA

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