Em entrevista publicada dia 20 de julho de 2009, segunda-feira, no jornal A Tribuna, Pedro Gabriel Godinho Delgado (foto), Coordenador Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde é por demais esclarecedora sobre a conduta que o Governo Federal adota em relação ao tratamento de pessoas que sofrem de transtornos mentais.
Delgado, que esteve em São Vicente participando de um seminário sobre saúde mental, rebate uma série de críticas que são feitas sem fundamento às diretrizes que desestimulam a internação e o isolamento em manicômios e desfaz diversos equívocos cuja disseiminação é estimulada pela má-fé daqueles que, por interesses próprios, se opõe à humanização da assistência às pessoas com distúrbios psíquicos e à preservação de seus direitos fundamentais como cidadãos. (Segunda-Feira, 20 de Julho de 2009, 06:33 -Jornal A Tribuna de Santos -Da Redação por Valéria Malzone)
Entrevista: Pedro Gabriel Godinho Delgado - Coordenador Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde
Médico psiquiatra e coordenador do programa de Saúde Mental do Ministério da Saúde (MS), Pedro Gabriel Godinho Delgado, afirmou que a discussão existente hoje no Brasil entre grupos que defendem a internação em manicômios e os que não aceitam mais nenhum tipo de internação, para pacientes com problemas mentais (desde os casos mais clássicos até depressão profunda grave), é democrática, porém "é errada". Segundo o especialista, que esteve em São Vicente, durante um seminário de Saúde Mental, o Ministério da Saúde defende o fechamento dos manicômios, o fechamento também dos grandes hospitais psiquiátricos, porém, ampliando a qualidade do atendimento e internando os pacientes somente quando for realmente necessário e "em condições melhores".
Existem ainda manicômios no Brasil?
Sim. Ainda existem no País manicômios judiciários do sistema penal, com quatro mil leitos, em 22 estados do Brasil. Além disso, há 208 hospitais psiquiátricos clássicos, sendo 20% públicos e 80% privados, que são conveniados com o Poder Público. Nestes, há 35 mil leitos.
Mas está em redução este número de manicômios e hospitais psiquiátricos?
Sim. De 2001 até 2008, descemos de 60 mil leitos em hospitais psiquiátricos para 35 mil. Estamos reduzindo entre 2.500 e 3 mil leitos ao ano.
E como é a política de tratamento, tanto nos manicômios como nos hospitais psiquiátricos?
Os manicômios judiciários ou hospitais de custódia são ainda um problema grave. Estamos até discutindo com o Ministério da Justiça e com a Secretaria Especial de Direitos Humanos maneiras de mudar e atualizar o tratamento aplicado aos pacientes que estão em medida de segurança, ou seja, aqueles doentes mentais que cometeram delitos. Já o tratamento nas clínicas e hospitais psiquiátricos está em transformação e atualização, além da própria redução de leitos.
E como é esta atualização do perfil dos hospitais psiquiátricos?
Esta mudança de tratamento está em franca expansão nos hospitais de pequeno porte, de até 160 leitos, o que é muito comum nas cidades interioranas, e é o que consideramos ideal. Queremos modificar os hospitais enormes, como um existente em São Paulo, na região de Itapira, com cerca de 800 leitos.
Hoje, o que mudou no tratamento para estes pacientes?
Estes hospitais enormes, que queremos fechar, têm até por razões estruturais um tratamento de menor qualidade. Isto significa uso inadequado de medicamentos, por tempo muito prolongado, que muitas vezes o paciente não precisa mais.
Além dos medicamentos, ainda se usa a chamada eletroconvulsoterapia (ECT) ou eletrochoque? Sim. A ECT é utilizada no Brasil para tratamentos específicos, principalmente para pacientes com depressão profunda grave, com risco de suicídio, e nos casos de esquizofrenia catatônica, sem resposta aos medicamentos. Porém, ao contrário do passado, hoje há um controle na sua aplicação. É preciso inclusive autorização por escrito do paciente ou da família. O paciente também recebe todo um preparativo, incluindo anestesia geral de curta duração. As instituições que aplicam a ECT, cuja maioria é do setor privado conveniado, precisam de autorização da Vigilância Sanitária, inclusive.
Qual é hoje a demanda no Brasil de doentes mentais?
Hoje, sofrem de transtornos mentais severos (esquizofrenia, autismo, psicose infantil, neuroses graves, depressão profunda e deficiência mental severa com sintomas psicóticos) 3% da população do País, ou seja, entre 5 e 6 milhões de pessoas. É muita gente. Se além destes pacientes graves, considerarmos aqueles que possuem os chamados transtornos mentais leves (depressão não tão profunda, fobias, demências moderadas e fobias), chegamos a 12% da população (cerca de 20 milhões de pessoas).
E qual a metodologia ideal de tratamento hoje?
Atualmente há muito sucesso nos tratamentos que começam na própria comunidade, aliados ao serviço público. Além disso, o gestor público deve se preocupar commecanismos de promoção de saúde, de controle da ansiedade, de promoção de lazer, de promoção de cultura e de esporte. Tudo isso ajuda, e muito, a evitar os transtornos mentais.
No passado, os alcoólatras eram tratados como loucos e enviados para manicômios. Como está isso hoje?
O alcoolismo é hoje o principal problema a ser tratado pela saúde pública. E isso em todo o mundo, não só no Brasil. Há muitos usuários, que são dependentes, e não sabem. Há também os casos graves, que precisam de atendimento clínico. O melhor lugar para atender a pacientes com este perfil é o hospital geral (normal). A internação de pacientes alcoolistas em hospitais psiquiátricos é um erro e que ainda acontece no Brasil, mascada vez menos.Os centros de atenção psicossociais (Caps) específicos para alcoólatras e drogados (AD) são bem mais adequados para este atendimento.
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