segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Intolerância em Debate no Jornal O DIA (Entrevista com o Prof. Marco Duarte - UERJ)


Informe do Dia: 'Caso da boate mostrou a força da intolerância'

POR CARLOS BRITO
Rio -  O horror na boate de Santa Maria não inibiu grupos religiosos de, nas redes sociais da Internet, culparem as vítimas pela tragédia. Para eles, as mortes seriam uma espécie de castigo divino aos jovens — entre eles, alguns evangélicos — que ousaram se divertir numa boate. Integrante do Grupo Estadual de Enfrentamento à Intolerância Religiosa, o professor da Uerj Marco José Duarte diz que esse tipo de postura tem sido cada vez mais comum.
Marco José Duarte | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Marco José Duarte explica mecanismos da intolerância religiosa | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
— O que leva pessoas a acreditarem numa punição divina?
— A ignorância motivada por uma fé que é cega e degenerada. Infelizmente, setores religiosos extremamente reacionários vêm ganhando cada vez mais força. E eles promovem repressão em nome de uma moral própria. Na visão deles, qualquer um que se comporte de forma diferente merece ser punido.
— Esse tipo de postura sempre existiu?
— Sim, mas nos últimos tempos ela se tornou mais perigosa e seus integrantes, mais auto-confiantes. Prova disso é o caso de Santa Maria. Esses grupos aprenderam a se organizar em blocos, associações e, até mesmo, em partidos.
— Eles também influenciam os não-religiosos?
— Sem dúvida. Quase todas as manifestações contrárias à aprovação do aborto em anencéfalos partiram de grupos religiosos. O problema é que eles querem legislar baseados nos seus dogmas. Tentam impor a visão moral de suas religiões à toda sociedade. É uma incapacidade total de aceitar o que é diferente.